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Maarten Janssen, 2014-

PSCR1323

[1654]. Carta não autógrafa de Francisco Gomes Henriques para Beatriz Mendes, sua mulher.

SummaryO autor dirige-se à mulher e aos filhos para lhes anunciar que foi condenado à morte. Despede-se de todos e declara-lhes as suas últimas vontades.
Author(s) Francisco Gomes Henriques
Addressee(s) Beatriz Mendes            
From Portugal, Lisboa, cárcere do Santo Ofício
To Portugal, Lisboa
Context

Há duas cartas guardadas como prova instrumental no processo de Francisco Gomes Henriques, preso por judaísmo e blasfémias. Francisco Gomes Henriques pediu a D.José Carreras, seu companheiro nos cárceres da Inquisição (Proc. IL393), que lhe escrevesse uma carta (PSCR1322) e que a enviasse ao destinatário por meio do seu advogado. D. José Carreras espiava Francisco Gomes Henriques para os inquisidores e informou a Inquisição deste pedido. Disseram-lhe que podia escrever o que quisesse, advertindo-o que lhes devia dar conta de tudo. Assim, D. José Carreras escreveu a carta, que Francisco Gomes Henriques assinou, e depois entregou-a na mesa da Inquisição.

Depois de saber que fora condenado à morte, a 28 de Setembro de 1654, e de a sua apelação ter sido recusada, Francisco Gomes Henriques escreveu uma derradeira carta à mulher e à família (PSCR1323)

Bibliografia:

Baião, António (1953), Episódios Dramáticos da Inquisição Portuguesa, Vol. II, Lisboa, Seara Nova (2ª ed.).

Support uma folha de papel dobrada, escrita em todas as faces.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Lisboa
Archival Reference Processo 10794
Folios 497r-498v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2310971
Socio-Historical Keywords Tiago Machado de Castro
Transcription Maria Teresa Oliveira
Main Revision Rita Marquilhas
Contextualization Maria Teresa Oliveira
Standardization Clara Pinto
Transcription date2016

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Deus nosso sñor esteja em vossa companhia pa emparo de vossos filhos e genro he vos sostente vos dee de seos beis pa emparar a minha onrada filipa serva de deos e virtuoza dandoselhe os des mil cruzados q destes a todos pois q meos pecados pirmitirão q Eu o não fizese e seja com pesoa igual a nos e de ventage Agora vos quero dar conta de minha desgraça q por meos pecados me condenarão estes senhores segunda fa vinte oito de setenbro a morte seja deos lovado q me guardou isto perto de oitenta anos pa vir a morer hũa morte tão afrontoza eu a tomei com grande animo apelei da dita sentença pa a curia de Roma tomarão a dita apelacão com grandes portestos e asinei no mesmo dia a quinta fa seguinte me chamarão e me diserão q não resebião a minha apelação q me puzese bem com deos e os ditos senhores me responderão em tribunal sopremo q se o não devia q o não disese q se pacase esta mortte injustamte q gozaria do ceo aterno eu lhe respondi como no primro dia asim permitira deos q o goze pois vou comforme em sua santa fee e mizericordia velhacos me chegarão a isto mas almas e mas consiencias jezu cristo lhe pesa conta com castigo e a min me de pasiencia pa pacar este transe tão agoniado

Lus e lume dos meos olhos minha companheira de perto de sincoenta anos ficaivos embora pois q nosso sñor jezu cristo não foi servido q morese nos vosos bracos e de meos filhos treze filhos tive em vossa companhia noso sñor os confirme asin aos prezentes como auzentes em sua santa fee pa q rogem pela minha alma asim nem mais nem menos como os vos dotrinastes e eu de tameninos

Meu Anto mends lus em q me revia em vossas grandezas e do meo onrado filho frnco e a minha virtuoza vilante e o meo Anto brandão e meos netos a minha alma fica encaregada a vos pois deos vos pos em teras tão santas e tão virtuozas emcomendovos mto a minha alma com misas e oficios e esmolas e jejus não vos escuecais do q vos emcomendo pois volo mereco que vos pus ricos e onrados e os meo netos ja serão de idade pa me emcomendarem a ds e não quero q me facais mais q comforme vos emcomendava a ds em minha liberdade e mto mais em meos trabalhos de tres anos q neles estive a todos vos filhos da minha alma e netos, não vos esqueca a devacão de nossa snora da gloria pois he de tantos anos e a devacão dos pobres q vinhão a esa casa pa q deos se lenbre de minha alma quando vim a estes cancados trabalhos pormeti a ds nosso sñor e a virgem nossa sñora da gloria q se me livrase e fose pa minha caza lhe deria q cazaria hũa orfa onde lhe daria sento e sincoenta mil rs por letra pecados não derão ese lugar nem foi ds servido não deixe de se cazar logo pa q ds ponha seos olhos de mizericordia com a minha alma sendo ela serva sua pois tanto a tenho ofendo, tinha em minha vontade q fose aquela orfa parenta vosa a quem demos hũa cacha de asuquar das mtas q nos vierão hũa ves do Rio de janro e lha derão na alfandega livre sem pagar direitos não lhe sei o nome porq me não lembra ou esa ou a filha de luis pais a mais pequena q he onrada e mto fermoza he não faltara quem quaze com ela por sua fermozura he isto seja aquela que a vos vos parecer que em vosa ileição o decho.

Minha ma enriques lus em q me revia e meu onrado filho e genro, estevão da silvra minha esmoler molher e marido sabe noso sñor filha as ancias q levo vosas e de voso marido porq eres onra da nosa geracão ds vos deche lograr e gozar vosa mucidade em serviso de ds noso sñor q he a verdadeira e a min me de paciencia pa pacar este transe de agonia pesovos mto a vos e a voso marido pois fazieis bem a todos facais bem a este desgarciado pois foi ds servido q não morese em vosos bracos he em nosa caza, pola minha bencão e a de ds q vos não esquecais do que vos emcomendo eses dias q viveres e asim vos peso q o escrevais ao meo anto mendes e a franco e a vilante o q atras lhe digo a eles em todas as ocaziois q lhe escreveres estimarei q vos lembreis de minha alma asim como eu o fazia em meos trabalhos e todas as nosas obrigasois toquante a nossa caza a meo filho estevão da silvra lhe peso q busque o irmão de pero lopes e que lhe pesa mto e lhe ponha em comsiencia q he mto devoto dos ingrezinhos q me emcomende a minha alma a ds q o mesmo fizera eu se istiver em liberdade como ele está e asim o comfio q o fara e teria cuidado desa caza pela mta cuid amizade q entre nos avia q lho mereco e gozando da vista de ds como confio em sua mizericordia, eu terei cuidado de me lembrar dele e de todos os mais

As advirtencias q acho pa descargo de minha conciemsia são as segintes a jaques mercador lhe devo comforme me parese nove mil rs de suas pagas da sobrelogia em q vevia ou o que ele por sua verdade diser tãobem lhe devo mais algũas miudezas de sua logia q elle dira o q he tãobem lhe devo de mais a mais sinquo ou seis tostois q lhe pedi pa dar a hum pobre se não os tiver asentados deselhe satisfacão com o demais não acho q deva mais pa dezemcaregar minha consiencia q isto tomemme tres bulas de composição pa ir mais satisfeito, sse for vivo po gomes não dechem de lhe fazer bem dandolhe oito des tostois cada mes e hum vestido cada ano suas camizas e meias e sapatos e lhe pagem as cazas em q viver por amor de deos tãobem deve alberto pais outo a hua pequena chueta e dise diante de min q avia o dro se o não cobrese suas cazas

O Vigairo da Loirinham q se chama foão grases freire me deve duzentos e sincoenta mil rs e custas o que a sentença dicher a qual divida me deve da igreja em q esta das bulas q lhe mandei vir de roma q me não pagou de q he escrivão dos vigairos fulano pinto q mora a nosa sñora dos martes cunhado do surdo trosedor o dito vigairo me pagava cada ano vinto mil rs natal e são joão des mil rs em cada paga he deviame duas pagas antes q me prendesem e o irmão de alvaro da costa mercador me dise dois dias antes q me prendesem, q tinha vinte mil rs pa me dar por conta do dito vigairo se he q os não deo deve ese ano e os tres de meos trabalhos e o mais q por diante vai corendo e lhe der satisfacão por imcheo e não satisfazendo tudo o podem mandar escomungar na comfirmidade da sentença e não pagava mais q os ditos vinte mil rs cada ano porq tinha grande pencão e o avia mister pa seo comgroco q se achar por meos escritos de recibos lhe levarão em comtam, quando lhe derem quitação.

Anbrosio de agiar q ds tem era mto pontual e por iso lhe emprestei seis mil cruzados em q entrou hum cavalo q me tinha custado oitenta mil rs naquele mes q o avia comprado lho dei logo por setenta mil rs ainda menos do q me avia custado cobre no de seo marido porq ela tornou a cazar de q esta hũa escritura sua no escritorio dos meos papeis e facaselhe embargo nas cazas do Remolares pa se irem pagando V quando não puder ser menos. A condesa do sabugal me deve seissentos mil rs q lhe dei a seis anos a rezão de juro de q tenho escrito seo e antes q me prendesem me deo comsinacão nas logias das suas cazas da rua nova cuido q cobrei sem mil res ou o que na verdade se achar por meos resibos o mais se cobre dela e os reditos q os pagar com o primor com q lhos dei. Na rua da moiraria morava hum alfaiate a entrada da nosa porta empenhou hũa salva pequena em quatro mil rs e nela esta por algarismo da minha letra se a não veio tirar he sua Ahy estão outros pinhores de hum omen q nos podava as pareiras estão em quatro mil rs comforme minha alembranca os pinhores ele dira os q são em sua consiencia pouco mais valião do q lhe emprestei. tãobem esta hum sestinho de prata empenhado em oito mil rs virãono buscar eu dise q o buscaria se o vierem buscar demlho. tãobem estão hũas galhetas em seo pratinho tudo de prata empenhado em des mil rs q mel aires mercador de panos sabe de quem são vindoas buscar lhas dem. ahy estão mtos pinhores de diversas pesoas de culheres e garfos e copos e aneis q todos comforme minha alembranca neles esta asentado o q devem asim nas cazas da moiraria mos empenharao como na logia vindose buscar se dem q não quero levar ese emcargo bastame o emcargo de meos pecados.

hũa vezinha forgideira da moiraria tem impenhado hua anagoa de baeta em mil e oitosentos rs ou o q ela diser vindoa tirar demlha

Na emchara dos cavaleiros quando fui a ver minha irman antes q me prendesem vi tantos pobres q lhe fis o q pude q me cortarão o coração asim vos peso minha companheira q todos os anos emqto viveres lhe deis dois moios de mestura ou senteio ou milho tudo repartido pelos mais pobres da dita vila a quatro alqres cada hum comforme os filhos q tiverem aventegando a mai de pelonia A paula de belas filha do ferador e a suas filhas lhe acudão todos os mezes com suas amasaduras de pão e dro q são mto pobres pa q todos me emcomendem a minha alma a ds, as esmolas q se fizerem na emchara seja pelo mes do natal q he o maior aperto q eles tem e isto repartira meu cunhado simão vas ou minha irman se forem vivos e por vosa morte decharei isto emcaregado a quem vos parecer pa q me emcomendem a ds pa q me perdoe meos pecados, com a duro comfeiteiro tenho contas largas ele me deve he eu lhe devo façaose contas quem dever q page E Avendo algũas dividas q eu deva q me não alenbrão a todas sse dem satisfacão sem contenda de justica q asim he a minha redadeira vontade. Minha sñora e companheira pesovos mto q a meo companheiro q foi nestes caseres q lhe tenho mtas obrigasois o agazalhem no escritorio de grigorio com mto amor porq não he desta terra nem tem nimgem nela q eu fazia conta se tivese liberdade levalo comigo e se lhe faca logo hum vestido mto bom do q ele quizer ou se lhe de o dinheiro bastante pa tudo o q lhe for nesesario e cama e de comer bastante e o mais q lhe for nesesario e jubão de seda e toda a ropa branca q lhe for nesesario e lencos e tudo o mais se lhe de milhor do q a min porq asim he a minha redadeira vontade he coiza q serve pa esa caza e de mta utulidade por ser mto nobre como o tempo demostrara sobre isto não tenho mais q vos dizer porq nada lhe falte pois he forasteiro e não tenho em minha prezenca q lhe deiche ou lhe dem logo vinte mil rs pa q ele faca o vestido a seo gosto dandoselhe tudo o mais q asima digo não lhe faltando nada mto vos avizara mas esto tão afregido q não me da o tempo lugar a mais a ds q vos gde a todos e vos de paciencia e a minha bencao q vos gde a todos e a de ds pramente

Deste voso desgarciado afrigido frco guomes ẽriqũes


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