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Maarten Janssen, 2014-

PSCR0382

[1615]. Carta de Bento Barbosa, homem do mar, para a sua mulher, Ana Lopes, lavadeira.

SummaryO autor dá notícias à sua mulher, dizendo que está vivo e contando as aventuras e doença por que passou, justificando com isso o facto de não ter escrito ou aparecido mais cedo.
Author(s) Bento Barbosa
Addressee(s) Ana Lopes            
From Índia, Malaca
To Portugal, Lisboa
Context

A ré deste processo é Ana Lopes, que se apresentou à Inquisição de Lisboa a 29 de agosto de 1623 para admitir culpas de bigamia. Contou que havia 12 anos se tinha casado com Bento Barbosa na igreja da Vitória, em Lisboa, e viveram como marido e mulher por dois anos, nascendo desse casamento uma criança, que entretanto faleceu. Ao fim desses dois anos, o marido embarcou para a Índia e ela apenas recebeu dele uma carta, dois anos depois de ele se ter ausentado. Não voltou a ter notícias dele. Dizia nesse escrito (PSCR0382) que a nau em que fora, chamada Guadalupe, dera à costa e que nesse acidente ele tinha ficado muito doente. Não tendo Ana Lopes mais notícias, veio a considerar que o marido estava morto e, por lho assim aconselharem muitas pessoas, tirou o luto e decidiu casar de novo. Oito meses antes de se apresentar à Inquisição tinha então casado, na mesma igreja da Vitória, com Varão Gonçalves, sapateiro, natural do Campo de Coimbra. À data do casamento, Varão Gonçalves foi buscar testemunhas em como Bento Barbosa era falecido, para as apresentar junto do juiz dos casamentos, algumas delas atestando ter Bento Barbosa falecido no hospital de Goa. O juiz dos casamentos deu-lhes licença para casar e Ana Lopes apenas teve de jurar perante o padre que tinha o primeiro marido por morto e que nunca mais tivera novas dele. A 15 de agosto de 1623, estando casados e vivendo maritalmente havia oito meses, recebera Ana Lopes duas cartas do primeiro marido (PSCR0383 e PSCR0384), vindas de Goa por via de uma naveta que estava na ilha Terceira. Logo que recebeu as cartas, reconhecendo nelas a letra e algumas palavras que o primeiro marido costumava usar, entendeu-as por verdadeiras, afastando-se do segundo marido e mostrando-lhe os escritos do primeiro. Também por isso, admitiu as suas culpas de bigamia perante a Inquisição. Ficou com termo de identidade e residência, tendo de se apresentar à Mesa todas as segundas-feiras às sete horas da manhã. Após o interrogatório à ré, o processo terminou com um último certificado de notário, dizendo que em nenhum dos livros de casamentos se encontrava Ana Lopes como casada, nem com Bento Barbosa nem com Varão Gonçalves. As cartas constam do processo como prova da sua culpa, mas após o documento do notário não há mais dados sobre o seu destino.

Support uma folha de papel dobrada, escrita no rosto do primeiro fólio e nas duas faces do segundo
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Lisboa
Archival Reference Processo 13009
Folios 10r, 11r-v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2313217
Socio-Historical Keywords Maria Teresa Oliveira
Transcription Mariana Gomes
Main Revision Catarina Carvalheiro
Contextualization Mariana Gomes
Standardization Catarina Carvalheiro
Transcription date2015

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mer||mulher ana lophes Rua da pintora ou aonde ela estiver q ds g bento barboz

permita noso snor q esta vos tome con perfeita saude q este voso marido vos dezeja ja estou muito emfadado de escrever tantas cartas como tenho escrevidas sim ter reposta de nenhuma e ja me parece q não sou alembrado por bento barboza mas quando vos istiveres mais descuidada antão vos ei de emtrar pela porta se deos quizer por iso estai avertida do q vos emporta porq não poso mais q nestas partes quen não tem cabedal pa guaanhar sua vida não chegan culpa a não tive noticea estando na china q vos me escreveras por ho carbalho q fomos ja embarcados numa armada cervindo el rei q porouvera deos q não me metera a cervir el rei porq não pagua jamais q com papeis mas ja estou desemganado de o servir se não ce for con prata na mão novas minhas são ficar de caude deos louvado pa tod o sempre mandai boas novas a vosa sogra de min e mais a minhas tias irmãs de minha mai escrebe a a minha mai q digua a minha tia dona iabel q coma muito embora o q me deixou meu pai q deos tenha no seu reto q sedo me deos trata pa recadar o q for meu e q de a saber ao jois dos orfãos q sou vivo e mais ao escrivão q core os papeis dos orfaos e de tudo isto eu tenho a culpa poi não quis arecadar o meu ja vos sabereis dos riscos q pasamos quando ce perde a nau na costa de milinde ce não forão os mouros q estavão fazendo resgmento naquela costa ja nos querião cortar a cabeça mas os mouros derão por nos muitos panos q trazião pa venderen a hes propios ano não tive dia de saude por respeito das mas augas q ali avia naquela costa o comer era marisco da proha e tam bondia q o podiamos achar pa comer cru q não lhe damos lugar a mais mas como fomos a bombuca logo nos derão duas pataquas pa comer e as quais não herão pa quinse dias pasamos muitas nicidades quantas deos sabe dei a noso señor muitas gracas pelas boas orasois q por min vos tendes razadas q me faz deos tantas mces q mais não pode ser o q vos peço q não vos dexeis esqueser das vosas romarias a nosa senhora do êmparo q ela me tem feito moitas mces nas minhas viages ca destas partes do sul podeis dar estas pouco boas novas antonia dias q o seu fo he morto q nunqua falou comiguo a perposto como via q eu servia ilrei do mais sênper me perguntava por sua mai eu pouzei na sua caza muito tẽmpo loguo como soube q sua irmãn hera cazada não quis mais cuidando q hera comiguo mas como lhe eu dise a verdade loguo ficou muito triste e me espidio q ja estava sãu e me perguntou q detriminava q não podia ter soldados em sua caza porq ja o mundo falava perguntavão q homen hera eu e ja eu me detriminava pa apquela somana de me embarquar não sou rezão q dei boas novas a quem por mim perguntar a meu primo e mais a sua molher que bem lhe peco que me emcomenden a deos deste voso marido ate morte que deos garde

bento barboza

Legenda:

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