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Maarten Janssen, 2014-

PS2503

1734. Carta de Luísa Maria Teresa para o seu irmão, António José Cogominho, fiscal da Intendência das Minas de Sabará.

SummaryA autora pede o auxílio do irmão para fazer face às despesas de sua irmã e de seus filhos, uma vez que é viúva.
Author(s) Luísa Maria Teresa
Addressee(s) António José Cogominho            
From Portugal, Lisboa
To América, Brasil, Minas Gerais, Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará
Context

António José Cogominho, cristão-novo, de 49 anos, fiscal da Intendência das Minas de Sabará, Brasil, filho de Manuel Pereira Rebelo, escrivão eclesiástico de Évora, e de Maria Nunes Gato, era casado com Joana Micaela de Sande Tórrosa e foi acusado de bigamia por ter casado pela segunda vez com Eufrásia Maria dos Prazeres, sendo ainda viva a primeira mulher. O réu foi preso a 26/01/1742 e condenado a penitências espirituais a 29/08/1743.

Joana Micaela de Sande Tórrosa, a primeira mulher do réu, era filha de António Gomes de Sousa e de Maria da Encarnação Xavier de Sande. Natural da freguesia da Santa Justa e moradora na de Santa Catarina de Monte Sinay, ter-se-ia queixado do marido na Mesa da Inqusição por ter descoberto que ele se tinha voltado a casar em terras brasileiras. Segundo ela, era casada com o réu tendo por testemunhas António da Cunha (Juiz dos Órfãos da Repartição dos Bairros da Sé e de Alfama) e José Pereira Rebelo (seu irmão), ambos já falecidos à data do depoimento. Os dois viveram juntos dois anos após o casamento e foi então que o réu decidiu ir trabalhar para o Brasil. Por intermédio de Manuel de Sousa Ferreira, soube que o marido se tinha casado uma segunda vez, pois este o ouvira dizer a outro homem que também tinha estado no Brasil. Ficou ainda com mais certeza quando, ao encontrar Antónia Pinheiro, esta lhe dissera que um compadre seu chamado António Lopes, que tinha sido escrivão na Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará, lhe dissera que o réu lá tinha casado. Segundo a depoente, Francisco Alves, Manuel Amado Sanchez, escrivão eclesiástico (autor da carta PS2502), e um seu sobrinho, Manuel José Amado, podiam atestar o primeiro casamento.

Um vizinho do réu na Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará, Brasil, testemunhou também, dizendo que este procurara saber da mulher e, achando que esta estava morta, fizera até luto por ela. Mais tarde, casara-se uma segunda vez na condição de viúvo, tendo inclusivamente a sogra e o cunhado Isidoro, que eram de Minas, ido a Sabará, ficando aí alojados na casa do noivo nos dias anteriores ao casamento.

No seu depoimento, o réu contou que, quando tinha cerca de 23 anos, se casou pela primeira vez e que não teve filhos com essa mulher. Estiveram casados alguns meses (segundo ele) e depois saiu de casa, indo para a Vila de Ponte de Cima, onde serviu de guarda de costa durante algum tempo. Mais tarde embarcou para o Brasil, onde foi escrivão da Casa de Fundição e só posteriormente passou a fiscal da Intendência. Esteve lá durante 18 anos sem saber de sua primeira mulher, até que recebeu as três cartas vindas de Portugal (PS2501, PS2502 e PS2503), as quais apresentou no momento de comprovar a morte dela. O réu disse ainda que chegou a perder 100 mil réis que Sua Majestade dava aos oficiais casados, por conta de se achar viúvo, e que andara de luto até que, em casa de José Lopes Rainho, seu companheiro na Casa da Moeda, conheceu a irmã da mulher dele e estes o incentivaram a casar. Em 1739, o réu perdeu a caução no valor de quarenta réis por não ter apresentado o certificado da morte da primeira mulher, o que lhe tinha sido pedido dois anos antes, para se poder casar pela segunda vez.

Esteve casado 5 anos com a segunda mulher, tendo uma filha de nome Gertrudes, que faleceu. Assim que, numa carta que lhe mostrou o Doutor Inácio Peres, foi informado pelo seu compadre Pedro António Silva de que a primeira mulher estava viva, deixou a segunda e resolveu ir para o Rio de Janeiro, com o fim de embarcar para Portugal e apresentar as suas culpas, mostrando a sua boa-fé.

Support duas meias folhas de papel não dobradas, escritas no rosto e no verso da primeira e no rosto da segunda.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Lisboa
Archival Reference Processo 131
Folios 10r-11r
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2300002
Socio-Historical Keywords Maria Teresa Oliveira
Transcription Leonor Tavares
Main Revision Catarina Carvalheiro
Contextualization Leonor Tavares
Standardization Raïssa Gillier
Transcription date2014

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Lxa oriental 22 de 8bro de 1734

Meu Snre numca me aRoje desta comfiança porq tambẽ lhe não deseijo favor de suas letras em todo o restante de tempo em q habita; nessa provincia; o q não emnoro ; pois pa este favor; não dependia vm nada desta sua serva, mas numca me descuidada de precurar noticias de vm como qm o venerando por irmão de outro Irmão a qm tanto estimava a ma veneração asim pello seu agrado a favor q me fazia; como pello amor com q tratava a ma mana, e a sua famillia, e caza; e como em tudo a fortuna foi ma comtraria, nesta vida, não quis esta deixar de exzecutar comigo os seus rigores, q não tive por meus pecados o castiguo de Ds em o ver com sermos tão deferentes; q por respo de huã afeição q tomou so per fora se voltou de tal sorte e com tal comdisão q não tomou aborrecimto a sua molher e filhos; mas ainda á mim me tomou tál odio q vinha a esta caza a fallar o sr Bor do Reguo pa os seus negos se não fazia cazo de mim sendo o meu trabalho e serviso desta caza o principio da sua vida e aumto q mtos mais tivera e mto remedio deixava os seus fos se não tivera a penção de sustentar outra caza; e com mais atenção q a sua propria; e vivendo em comtino llavarinto de emlleios acabou a vida; o q mais atribuir sua cauza; algũs efeitos q lhe fizerão, mas sempre foi rte de Ds q eu vise mo irmão com tanto destroso e dezemparo; q andando doente anno numca lhe ocorreo q hera avizo de Ds pa cuidar em q lhe poderia faltar a vida; e ficar sua molher e filhos dezaranjados como ficarão; athe q Ds foi servido acabase com tal repente q apenas ouve autos de cristão; sem deixar clareza alguã da sua vida; mais q huã novela de emredos com dividas q pasavão de fazer nomero de des mi mil cruzados sem ter de seu não des mil reis; q se não fora este snre porião logo mo Irmão Na Rua e a seus filhos sem mais cobertura q a q Ds lhe criou; pode vm crer q se não achara por todo mumdo cazo semelhante q podendo ser a comsollação dos seus e meus parentes foi maior pezar; os seus parentes do álentejo; todos ricos e fidalgos como ja não tem dependensia de negos ja não ha parentesco, nẽ noticias Nem noticias de q tal parentesco ouve; os meos choro tanto, mas eu não neguo q os meos não podem ainda q quisesem; ainda q bem sei q cada quer pa si e qm trabalha pa adequerir dois vinteins q he pa pasar a sua vida e não pa gastar com parentes; mas os mosos com a vte e pouco custo e despendio; mas tudo Ds; detriminou asim pella sua de-vina vte; e tudo me ademirou mas mto mais q não ouve neste dezaRanjo qm disese , eu devia a este defunto sinco Reis; sabendo nós mto bem q mtos gollozos o acompanhavão por sua comviniencia; mas como - não fes nem ca asento da sua vida nẽ do q devia nẽ lhe devião; nẽ a sua molher dava a comta q hera justo; não ouve mais q hũs sobre outros, a mim me deve a mim me deve; asim ficou esta sollitaria viuva descomsollada aflita atribullada com sinco filhos tres filhos em caza e filho; q se não fora o fazer o sre Bor do Reguo Josefa freira e santa clara tãobem ficara no mesmo dezemparo mas ainda lhe vou deste mundo vella profeçar, e he a q tem estado; mas sempre nesecita de lembraca q as Relligiois oje estão mto atinuadas e apenas dão a triste fação; e eu não posso valler a nenhuã mais q com amor como qm as criou; Joaquina he o retrato de seu pai huã molher de vinte annos meresedora de mto mas so oje não se precura senão dote ella o não tem nẽ pa nẽ - outro, estado, ma Mgda tem quinze annos com tanta altura de corpo como Joaquina q ambas formou Ds; a estatura de seu pai, e brancas e Moiras; Josefa se pareseu com vm; o menino tem oito annos mto fran-zino e doente; a outra menina tem quatro annos; esta de huã queda quebrou pella sentura tem pasado mta mollestia; mas vai vivendo e ma Irmã com gde queixa no peito como qm continuamte se ; atenuada de prisiguisois e sem Remedio, q á sombra deste snre vai tentando como pode as suas mortificasois, nẽ qm paso com caridade nẽ faça requerimto dos servisos de seu marido q este snre como tem tantas ocupasois não pode fazerlhe o q he mais presizo q são as paçadas isto he dar a vm Rellação das nosas penas; bem sei q tambem participa dellas; e se estas quizerem fazer a vm lembrado destas órfas terá mais mericimto pa com Ds; e ellas mais motivos pa pedirem a Ds pella Pella sua vida e saude q estimarei vm a llogre mto perfeita pa q tenhamos o gosto de ver neste Reino; minha mana fica doente como ja diguo a vm e Joaquina sangrada com febre não sei o q Ds fará della soposto não mostra cuidado; ma Mgda fica nesta caza q como he afi-lhada do sre Anto de Andrade Reguo qro ver se lhe poem os olhos pa a tornar a recolher pa S Clara; o pa o estado q Ds quizer q como os mosteiros estão tão pobres e se presiza tanto pa o estado de freira; com a metade do custo pode ter outro estado; eu não lhe posso ser boma antes dependo della e de todos porq estou ja mto cançada e velha e a caza alheia gastoume a sustancia; e não me premete descanço; se Ds for servido dar a vm graça pa q ponha os olhos nestas meninas sempre nellas terá a ma vilhise emfermeiras, como vm tem em mim huã prepetua oradora; eu não sei se dou a vm ou boma nova; mas pellas noticias q tenho sempre será bom saber; q me dese o sre Bor do Reguo q lhe disera Anto João Lxa q hera amiguo do sre Joze pra q Ds tem; q vm estava viuvo; eu como não conhesia essa sra não o poso dezer com serteza; mas pa a memção da frota escrevera ma mana com mais clareza; e todos o faremos pa precurar a saude de vm; a ma Mgda o fas da sua terra pa q vm se llembre do seu amór q he por , e todos o veneramos e oferesemos a sua obediencia o pouco q prestamos q em tudo somos prontas e em pedir a Ds gde a vm oje 22 de 8bro de 1734

De vm mto serva e veneradora Lza Ma Thereza

Legenda:

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