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Maarten Janssen, 2014-

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[1720]. Carta de António da Cruz e Silva para destinatário desconhecido.

SummaryAntónio Silva reitera nesta carta que dá a alma ao diabo porque Deus o não ajudou, e ameaça também todos os que contribuiram para que caísse naquela situação.
Author(s) António da Cruz e Silva
Addressee(s) Anónimo257            
From Portugal, Lisboa, Cadeia do Limoeiro
To S.l.
Context

António da Cruz e Silva, solteiro, era filho de Pedro Martins e de Mariana Silva, e não tinha ofício. Encontrava-se preso no Limoeiro e daí escreveu uma carta ao padre José da Silveira, dizendo que entregava a alma ao diabo. José da Silveira dirigiu-se à cadeia do Limoeiro para falar com o réu, mas o mesmo manteve a sua posição, reiterando que de facto passou a adorar lúcifer e que era isso mesmo que queria dizer ao Santo Ofício. O padre José da Silveira foi questionado pela Inquisição de Lisboa sobre se António da Cruz e Silva seria louco, ao que respondeu que não era, mas que tinha muita raiva e cólera. De acordo com José da Silveira, o réu estava muito zangado com os seus pais porque estes andavam a tratar de um meio de o embarcar para fora. Além disso, o réu fora condenado ao degredo por cinco anos (no Caderno do Promotor não é indicado o motivo desta sentença), para Cacheu. O padre concluiu que aquelas declarações proferidas por António da Cruz e Silva não foram fruto de um erro nem de nenhuma paixão, mas antes pensadas porque o réu pretendia ,com elas, chamar a atenção do Santo Ofício e, assim, impedir a execução da sua sentença. De facto, o conteúdo das cartas de António da Cruz e Silva revela que o autor está realmente zangado com várias pessoas, incluindo os seus pais, e que não aceita de maneira nenhuma o seu degredo.

Support meia folha de papel dobrada escrita no rosto
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Lisboa
Archival Reference Livro 282
Folios 319r
Transcription Ana Guilherme
Standardization Catarina Carvalheiro
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2008

Page 319r

[1]

aSim Como vão esses trastes hey de ainda Rasgar

[2]
a alma, a qm he oRigem de eu hir degradado, por annos
[3]
Como malfeytor; pa q dou a alma ao diabo, e a Renego de Ds
[4]
e todos os Santos do Ceo pois me dezempararão, e mete
[5]
rão em tantas neCesidades; mas temey todos os q sois Cauza
[6]
de eu dezesperar, q aSim Como o diabo leva ja a mofina
[7]
q tanto mal me fes, ha de Levar a todos: e aSim o Creyo
[8]
e pa q aSim seja por este esCrito dou a alma e vida, ao dia-
[9]
bo, se Comprir isto q lhe pesso o q mto de minha vontade o faço
[10]
sem ser constragido de Couza algũa, e estou pronpto pa a guardar
[11]
sempre q o diabo me pedir esta Carta pa Sinal do q a aSino eu

[12]
Antonio da Crus e Silva

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